Tornar a saúde mental e o bem-estar para todos uma prioridade global.

O mote escolhido pela OMS para o Dia Mundial da Saúde Mental 2022, apela ao envolvimento dos diferentes países e das respetivas populações, na promoção da saúde mental e na prevenção de riscos evitáveis que desencadeiam desequilíbrios e disfunções. É um mote ambicioso que impele a perspetivar possibilidades de mudanças, no modo como ao longo de décadas, se têm perspetivado as necessidades e equacionado as respostas, visando a respetiva satisfação, em prol da saúde mental das comunidades. Sublinhar as diferentes oportunidades existentes de se concretizar mais e melhor nesta área específica, é certamente um desiderato que consideramos possível e que subjaz ao mote escolhido para este dia.

Reúnam-se pois saberes, evidências científicas e despenda-se tempo para análise objetiva das realidades que nos cercam, quotidianamente, a fim de planificarmos conjuntamente, programas promotores da saúde mental das populações.

A legitimidade de queremos melhorar a qualidade das respostas nas diferentes comunidades, assenta não só nas orientações estratégicas internacionais, mas também, em planos e estratégias delineadas a nível nacional e regional, documentos orientadores estratégicos assumidos formalmente.

Todavia, é fundamental darmos mais passos adiante, a fim de concretizarmos as estratégias delineadas e de interesse coletivo. Sobretudo os que detêm mais conhecimento e competências a fim de tornarmos a saúde mental uma prioridade global e regional. Capacitando os cidadãos em geral e os mais vulneráveis em particular para se auto-cuidarem, estarem informados, conhecerem e compreenderem as mensagens mais adequadas à saúde, procurarem apoios e serviços prestadores de cuidados de saúde e de saúde mental, usufruírem dos cuidados e das intervenções terapêuticas, lidando de forma mais adaptativa com os processos de saúde e de doença mental.

Enquanto coordenadora do ORSMM, aproveito assim o mote da OMS para este dia, sublinhando que estamos presentes, coletando elementos que contribuam para mapear necessidades, identificar respostas, reforçar boas práticas, sensibilizar e catalisar mudanças desejáveis nas representações sociais acerca da doença mental. Confunde-se a pessoa com a doença privando-a frequentemente da oportunidade de ser ela própria, diferente, ainda que vulnerável, mas com direitos inalienáveis, relativos a qualquer ser humano. Estamos presentes para sugerir análises mais profundas e articuladas nos diversos contextos de vida e sociais, nos quais se promove a saúde mental, mas onde também, coexistem fatores de risco e precariedades que, se não forem detetados e controlados, desencadeiam doença e promovem o estigma.

Os determinantes já identificados da saúde mental são múltiplos. Dos sociais, aos psicológicos, aos biológicos, aos espirituais, entre outros, todos devem ser avaliados nos diferentes contextos de vida e no decurso das etapas de desenvolvimento do ser humano. Associam-se ainda aos processos de transição, quer desenvolvimentais quer acidentais e ou associadas a processos de doença, que identificados e avaliados quanto às suas características, determinam o delineamento de intervenções adequadas, a fim de tornarmos os ambientes mais salubres quer do ponto de vista físico quer mental, bem como para dispensarmos os apoios terapêuticos apropriados a cada pessoa e aos seus significativos, nessa situação.

Na senda do mote lançado para 2022, considera-se oportuno realçar a importância do reforço da literacia em saúde mental das populações, a equidade no acesso aos recursos na área da saúde mental, a diversificação de respostas terapêuticas apropriadas, acessíveis e de continuidade, o reforço de estruturas de reabilitação psicossocial, o empowerment dos cidadãos para decidirem das suas vidas, outras alternativas apoiadas de integração nas comunidades, o apoio aos familiares e aos cuidadores, a salvaguarda de direitos fundamentais de participação e de cidadania.

Os obstáculos surgem em diferentes caminhos e com diversas configurações. No entanto, os fatores que catalisam investimentos positivos na ultrapassagem das barreiras superam-nos. A diversidade do pensamento já acumulado e refletido sobre esta área e o conjunto de vontades, saberes e recursos, coordenados sinergicamente, serão fundamentais para alteramos representações sociais negativas, preconceitos e estereótipos manifestamente estigmatizantes, priorizando a saúde mental para todos.

Reforcemos o planeamento e as intervenções promotoras da saúde mental baseando-as em evidências científicas resultantes de investigações, incentivando-as para conhecimento mais objetivo das circunstâncias contextuais e humanas regionais, conferindo-lhes utilidade para reforço da intervenção em saúde mental.

Ganhos substanciais advirão para todos, no que se refere à saúde mental e ao desenvolvimento sustentado da nossa região.

Aproveitemos o mote, e sejamos construtivos e eficazes propagando-o através de iniciativas e atos concretos, nas diversas comunidades.

Obrigada a todos os que participam nesta construção.

Isabel Fragoeiro
(coordenadora do ORSMM)


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